“Há pouco mais de cem anos, em plena pneumónica, o escritor Raul Brandão deslocou-se às Berlengas, recolhendo notas para o livro “Os Pescadores”. O episódio é assim descrito: “Atrevo-me a falar a um velho musaranho (…) que está metido no farol, de costas para o mar, fingindo que não me vê”. “Que beleza”, diz-lhe o escritor. Ele resmunga: “Que beleza, isto? O vento e o mar. Sempre o vento e o mar. O vento que, no inverno, não me deixa chegar à porta. E o mar, todo o dia, toda a noite a bramir (…) Eu não sou um faroleiro, sou um náufrago”. O homem queixa-se de que não pode “ter uma couve ou uma abóbora”. Os coelhos comem tudo. Contudo, os coelhos apanham-se à mão. Mas ele queixa-se: “Aqui não se sabe de nada, aqui não chega nada, nunca. Nem a pneumónica aqui a chegou”.”